sábado, 5 de janeiro de 2008

FIQUE DE OLHO!

óleo de cozinha
Lixo que vira limpeza e renda
Emprego, renda, sabão ecológico e até combustível vão embora pelo ralo, junto com o óleo que já foi usado em frituras na cozinha
Por Isabel Abreu Braga
Planeta Sustentável - 20/11/2007


Os problemas causados pelo óleo de cozinha que é lançado nos encanamentos da rede coletora de esgotos começam já nas residências. De acordo com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - a Sabesp -, o acúmulo de óleo ou de gordura nos canos pode causar entupimento, refluxo de esgoto e até rompimento das redes de coleta. Por isso, a Sabesp recomenda a instalação de caixas para retenção de gordura nas casas e estabelecimentos comerciais, o que já é exigência na instalação de alguns estabelecimentos como supermercados, shopping centers e restaurantes.
E os danos não param por aí. Quando chega no meio ambiente, o óleo pode impermeabilizar o solo, o que dificulta a absorção de água e pode até causar enchentes. Quando é despejado diretamente nos rios e represas, fica na superfície, impedindo a entrada de luz e ameaçando a vida de espécies aquáticas. Estima-se que 1 litro de óleo prejudique a oxigenação de cerca de 1 milhão de litros de água - o equivalente ao consumido por uma pessoa durante 14 anos.
Sem informação, donos de restaurantes, cozinheiros, pasteleiros e donas de casa causam um enorme dano para o encanamento das suas residências e também para o meio ambiente. Estima-se que cada família consuma cerca de 1,5 litros de óleo por mês, ou cerca de 18 litros por ano. Considerando todos os lares e estabelecimentos comerciais do Brasil, a quantidade de óleo que vai para o ralo é enorme. Para garantir que o óleo tenha destino correto depois de usado na cozinha, o
Instituto Akatu está elaborando uma lista com os endereços de postos de coleta, em todas as regiões do país. Veja aqui como você pode ajudar a confeccionar essa lista.
O deputado João Barbosa, do partido Democratas, encaminhouo projeto de lei número 463, de 2007, para o governador de São Paulo, José Serra, que previa multar em R$ 7.115 quem jogasse gordura ou óleo vegetal nos encanamentos da rede coletora de esgotos. Serra, no entanto, não sancionou a lei.
A proposta de lei era um tanto audaciosa para um Estado do tamanho de São Paulo, que tem mais de 40 milhões de habitantes. Já imaginou, por exemplo, o número de fiscais que deveriam ir às ruas para verificar se o óleo está sendo dispensado conforme a regulamentação?
Mais do que implantar uma política de pulso firme, como a lei com aplicações de multa, o Estado deve realizar trabalhos educacionais em massa, que façam com que a população entenda os problemas que óleo utilizado para frituras pode causar no nosso planeta, que está sob tantas outras ameaças.
Perfeito seria se a informação sobre os danos que o óleo causa ao meio ambiente fosse plenamente disseminada. A própria sociedade se organizaria. Residências, estabelecimentos comerciais e indústrias estariam preparados para a coleta seletiva do óleo. Além disso, empresas e entidades especializadas seriam responsáveis pelo manuseio, tratamento e armazenamento do óleo, que pode ser tambémoportunidade de novos negócios, gerando emprego e renda.
Depois de usado na frituras dos alimentos, o óleo de cozinha pode virar sabão e até biocombustível. A prefeitura de Diadema, na grande São Paulo, por exemplo, coleta óleo para transformá-lo em biodiesel. Desde 2005, quando o projeto foi iniciado, o município já deixou de despejar cerca de 10 toneladas de óleo. A gerência executiva de Desenvolvimento Energético do Gás e energia da Petrobrás também está atenta a possíveis fontes de energia mais limpa e desenvolve, ainda em fase inicial, um projeto para utilização de óleo de cozinha na produção de biodiesel. Quando concluído, será duplamente benéfico: além de reutilizar óleo, substitui o petróleo na geração de energia.
O sabão ecológico é o produto mais produzido a partir do óleo. O processo é relativamente fácil e pode, inclusive, ser feito em casa!No município de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, a empresa
Disque Óleo recolhe garrafas PET cheias de óleo nas residências, há mais de dois anos. "Pedimos que as pessoas juntem três garrafas e nos avisem; em três dias úteis, passamos para recolher", conta o dono da empresa Lucinaldo Francisco da Silva, conhecido como Caio. Atualmente, a Disque óleo tem cerca de 30 pessoas para coletar - de carro ou moto - as garrafas nas residências e, também, nos estabelecimentos comerciais cadastrados, que somam mais de 1500 endereços no Rio e no Grande Rio. No total, por mês, são reciclados cerca de 80 a 90 mil litros de óleo. "A empresa está crescendo muito. Há dois anos, recolhíamos cerca de 15 mil litros de óleo por mês. Hoje, esse número é bem maior", diz o dono da Disque Óleo.
Para Paulo César Correia, coordenador do
Instituto Triângulo, uma Organização de Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) certificada em março de 2004, o óleo é um instrumento de transformação social, capaz não só de ajudar a melhorar o meio ambiente, mas também a coletividade. Hoje, cerca de 60 pessoas trabalham no Instituto e oito são diretamente empregados na usina, localizada em Santo André, região do grande ABC. "Queremos transformar a usina em uma cooperativa, mas, para isso, precisamos de 20 pessoas. Percebemos como o óleo pode ser bom quando começamos a entender o impacto social que dele resulta", diz Paulo.
O trabalho de formiguinha que o Triângulo começou há mais de 4 anos, quando coletava dois litros de óleo por mês, conseguiu reunir mais esforços a partir da informação do cidadão e da prática da ecologia urbana. "A dona de casa tem um papel fundamental. Com informação, ela passa a entender que o poder de mudança está nas mãos dela", afirma ele. Hoje, cerca de 60 mil residências, distribuídas em cidades da região do Grande ABC colaboram com o trabalho do Instituto. E o projeto "Vamos trabalhar para cuidar do Meio Ambiente", feito em parceria com a Bunge alimentos, pretende, em um ano, recolher o óleo utilizado por cerca de 22 mil famílias que vivem em 270 condomínios da região.
Atualmente, os dois mil litros de óleo coletados são reutilizados para a fabricação de cerca de duas toneladas de sabão ecológico por mês. Cada quilo do sabão em pedra é vendido por R$ 2,50 nas casas, escolas, empresas e outros parceiros da entidade. "É necessário informar os cidadãos para que eles participem. E o Estado precisa fazer com que a informação chegue à sociedade. Ele seria mais eficaz incentivando e difundindo o trabalho das entidades do que criando leis, pois tudo o que ele proíbe precisa ser fiscalizado", diz ele.
Além do óleo vegetal usado, o Instituto Triângulo coleta também pilhas, baterias, roupas e calçados e publica a revista Ambiente Urbano, para incentivar a mobilização popular pelo meio ambiente urbano, a inclusão social e o consumo consciente.
Há outras iniciativas empenhadas na transformação desse lixo urbano. A campanha "Óleo Vivo", que tem apoio do prefeito Gilberto Kassab, por exemplo, pretende mobilizar condomínios da cidade de São Paulo para a coleta do óleo de cozinha. Idealizada por advogados do escritório Mendonça do Amaral Advocacia, a campanha já conta com 12 condomínios, selecionados pelo portal
SíndicoNet.
A
Associação Nossa Escola e a ONG Trevo também recolhem o óleo que já foi usado pela dona de casa e pelos restaurantes. No mês passado, a rede de supermercados Pão de Açúcar abriu mais 39 postos de coletas do óleo, totalizando 48 unidades que participam do programa, que em três meses já recolheu 3.500 litros de óleo para serem transformados em biocombustível.
Veja os endereços onde você pode levar o óleo no site do
Grupo Pão de Açúcar.Todas essas iniciativas são muito válidas para aumentar a conscientização das pessoas e mostrar que o que pode ser feito pelo meio ambiente está ao alcance de todos. Se a lei proposta pelo deputado um dia vier, teremos que estar preparados. Mas mesmo que ela não venha, produzir sabão, combustível, renda e emprego, a partir do que iria embora pelo ralo, é uma excelente idéia.
Os problemas causados pelo óleo de cozinha que é lançado nos encanamentos da rede coletora de esgotos começam já nas residências. De acordo com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - a Sabesp -, o acúmulo de óleo ou de gordura nos canos pode causar entupimento, refluxo de esgoto e até rompimento das redes de coleta. Por isso, a Sabesp recomenda a instalação de caixas para retenção de gordura nas casas e estabelecimentos comerciais, o que já é exigência na instalação de alguns estabelecimentos como supermercados, shopping centers e restaurantes.
E os danos não param por aí. Quando chega no meio ambiente, o óleo pode impermeabilizar o solo, o que dificulta a absorção de água e pode até causar enchentes. Quando é despejado diretamente nos rios e represas, fica na superfície, impedindo a entrada de luz e ameaçando a vida de espécies aquáticas. Estima-se que 1 litro de óleo prejudique a oxigenação de cerca de 1 milhão de litros de água - o equivalente ao consumido por uma pessoa durante 14 anos.
Sem informação, donos de restaurantes, cozinheiros, pasteleiros e donas de casa causam um enorme dano para o encanamento das suas residências e também para o meio ambiente. Estima-se que cada família consuma cerca de 1,5 litros de óleo por mês, ou cerca de 18 litros por ano. Considerando todos os lares e estabelecimentos comerciais do Brasil, a quantidade de óleo que vai para o ralo é enorme. Para garantir que o óleo tenha destino correto depois de usado na cozinha, o
Instituto Akatu está elaborando uma lista com os endereços de postos de coleta, em todas as regiões do país. Veja aqui como você pode ajudar a confeccionar essa lista.O deputado João Barbosa, do partido Democratas, encaminhouo projeto de lei número 463, de 2007, para o governador de São Paulo, José Serra, que previa multar em R$ 7.115 quem jogasse gordura ou óleo vegetal nos encanamentos da rede coletora de esgotos. Serra, no entanto, não sancionou a lei. A proposta de lei era um tanto audaciosa para um Estado do tamanho de São Paulo, que tem mais de 40 milhões de habitantes. Já imaginou, por exemplo, o número de fiscais que deveriam ir às ruas para verificar se o óleo está sendo dispensado conforme a regulamentação? Mais do que implantar uma política de pulso firme, como a lei com aplicações de multa, o Estado deve realizar trabalhos educacionais em massa, que façam com que a população entenda os problemas que óleo utilizado para frituras pode causar no nosso planeta, que está sob tantas outras ameaças. Perfeito seria se a informação sobre os danos que o óleo causa ao meio ambiente fosse plenamente disseminada. A própria sociedade se organizaria. Residências, estabelecimentos comerciais e indústrias estariam preparados para a coleta seletiva do óleo. Além disso, empresas e entidades especializadas seriam responsáveis pelo manuseio, tratamento e armazenamento do óleo, que pode ser tambémoportunidade de novos negócios, gerando emprego e renda. Depois de usado na frituras dos alimentos, o óleo de cozinha pode virar sabão e até biocombustível. A prefeitura de Diadema, na grande São Paulo, por exemplo, coleta óleo para transformá-lo em biodiesel. Desde 2005, quando o projeto foi iniciado, o município já deixou de despejar cerca de 10 toneladas de óleo. A gerência executiva de Desenvolvimento Energético do Gás e energia da Petrobrás também está atenta a possíveis fontes de energia mais limpa e desenvolve, ainda em fase inicial, um projeto para utilização de óleo de cozinha na produção de biodiesel. Quando concluído, será duplamente benéfico: além de reutilizar óleo, substitui o petróleo na geração de energia. O sabão ecológico é o produto mais produzido a partir do óleo. O processo é relativamente fácil e pode, inclusive, ser feito em casa!No município de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, a empresa Disque Óleo recolhe garrafas PET cheias de óleo nas residências, há mais de dois anos. "Pedimos que as pessoas juntem três garrafas e nos avisem; em três dias úteis, passamos para recolher", conta o dono da empresa Lucinaldo Francisco da Silva, conhecido como Caio. Atualmente, a Disque óleo tem cerca de 30 pessoas para coletar - de carro ou moto - as garrafas nas residências e, também, nos estabelecimentos comerciais cadastrados, que somam mais de 1500 endereços no Rio e no Grande Rio. No total, por mês, são reciclados cerca de 80 a 90 mil litros de óleo. "A empresa está crescendo muito. Há dois anos, recolhíamos cerca de 15 mil litros de óleo por mês. Hoje, esse número é bem maior", diz o dono da Disque Óleo. Para Paulo César Correia, coordenador do Instituto Triângulo, uma Organização de Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) certificada em março de 2004, o óleo é um instrumento de transformação social, capaz não só de ajudar a melhorar o meio ambiente, mas também a coletividade. Hoje, cerca de 60 pessoas trabalham no Instituto e oito são diretamente empregados na usina, localizada em Santo André, região do grande ABC. "Queremos transformar a usina em uma cooperativa, mas, para isso, precisamos de 20 pessoas. Percebemos como o óleo pode ser bom quando começamos a entender o impacto social que dele resulta", diz Paulo. O trabalho de formiguinha que o Triângulo começou há mais de 4 anos, quando coletava dois litros de óleo por mês, conseguiu reunir mais esforços a partir da informação do cidadão e da prática da ecologia urbana. "A dona de casa tem um papel fundamental. Com informação, ela passa a entender que o poder de mudança está nas mãos dela", afirma ele. Hoje, cerca de 60 mil residências, distribuídas em cidades da região do Grande ABC colaboram com o trabalho do Instituto. E o projeto "Vamos trabalhar para cuidar do Meio Ambiente", feito em parceria com a Bunge alimentos, pretende, em um ano, recolher o óleo utilizado por cerca de 22 mil famílias que vivem em 270 condomínios da região. Atualmente, os dois mil litros de óleo coletados são reutilizados para a fabricação de cerca de duas toneladas de sabão ecológico por mês. Cada quilo do sabão em pedra é vendido por R$ 2,50 nas casas, escolas, empresas e outros parceiros da entidade.
"É necessário informar os cidadãos para que eles participem. E o Estado precisa fazer com que a informação chegue à sociedade. Ele seria mais eficaz incentivando e difundindo o trabalho das entidades do que criando leis, pois tudo o que ele proíbe precisa ser fiscalizado", diz ele. Além do óleo vegetal usado, o Instituto Triângulo coleta também pilhas, baterias, roupas e calçados e publica a revista Ambiente Urbano, para incentivar a mobilização popular pelo meio ambiente urbano, a inclusão social e o consumo consciente.
Há outras iniciativas empenhadas na transformação desse lixo urbano. A campanha "Óleo Vivo", que tem apoio do prefeito Gilberto Kassab, por exemplo, pretende mobilizar condomínios da cidade de São Paulo para a coleta do óleo de cozinha. Idealizada por advogados do escritório Mendonça do Amaral Advocacia, a campanha já conta com 12 condomínios, selecionados pelo portal
SíndicoNet. A Associação Nossa Escola e a ONG Trevo também recolhem o óleo que já foi usado pela dona de casa e pelos restaurantes. No mês passado, a rede de supermercados Pão de Açúcar abriu mais 39 postos de coletas do óleo, totalizando 48 unidades que participam do programa, que em três meses já recolheu 3.500 litros de óleo para serem transformados em biocombustível. Veja os endereços onde você pode levar o óleo no site do Grupo Pão de Açúcar.Todas essas iniciativas são muito válidas para aumentar a conscientização das pessoas e mostrar que o que pode ser feito pelo meio ambiente está ao alcance de todos. Se a lei proposta pelo deputado um dia vier, teremos que estar preparados. Mas mesmo que ela não venha, produzir sabão, combustível, renda e emprego, a partir do que iria embora pelo ralo, é uma excelente idéia.